quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Pessoas, plantas, animais e coisas

Compreende-se que uma pessoa que construiu para si um determinado significado do casamento tenha dificuldades em aceitar que se ponha isso em causa. Compreende-se, mas não é procedente. O casamento, destituído dos seus significados simbólicos, que devem ficar com cada um, deve ser, sobretudo, uma união administrativa e económica. Se se pretende que o casamento consagre um enquadramento legal que beneficie a constituição de família numa óptica de progenitura, por muito que se lamente, não passa, então, de um conceito ultrapassado e que deve ser abandonado. O casamento deve ser uma forma legal de duas pessoas dizerem que querem partilhar uma vida e uma economia familiar. Não é um papel, que agora nem sequer se assina, que confere estabilidade a uma relação para a manter de pé ou para gerar filhos num ambiente favorável.

A protecção à família não se faz com papéis. Faz-se com medidas concretas, como taxas de IRS mais baixas para casais e ainda mais baixas para casais com filhos; faz-se com uma rede de creches e infantários com cobertura nacional e para a qual não seja preciso inscrever as crianças com um ano de antecedência; faz-se com horários de trabalho mais flexíveis para pais e mães; faz-se com uma licença parental partilhada discricionariamente pelos pais (para acabar com a discriminação laboral das mulheres pelos meses que vão passar em casa); faz-se construindo ginásios e centros de actividades extra-curriculares nas escolas públicas (para que os pais deixem de andar a fazer sprints pelo trânsito das cidades de casa para a escola e da escola para a piscina e da piscina para a equitação e da equitação para a aula de música). Faz-se com medidas concretas que têm efeitos práticos na vida das pessoas e não se limitam a ser um manifesto de boas intenções.

Aceita-se que o casamento integre uma dimensão afectiva e reconheça um contrato de fidelidade mútua, tal como acontece actualmente, embora também não deva repugnar que isso pudessem ser adendas ao contrato celebrado, do mesmo modo que o regime de comunhão de bens é decisão dos nubentes. Duas pessoas podem considerar que a fidelidade conjugal não é um factor de peso na sua relação e não parece que não devam casar-se por causa disso. A forma como cada casal decide viver a sua intimidade não deve ser objecto de interferência do Estado, a menos que estes assim o desejem, e o expressem manifestamente, integrando-o no contrato celebrado. Deve ser esse o papel desempenhado pelo Estado na instituição do casamento: reconhecer publicamente uma forma de relação, funcionando como instância de apelo em caso de quebra do acordado.

Para fim de argumentação, a estabilidade familiar, uma noção tão cara aos sectores mais conservadores da sociedade, não se garante pela heterossexualidade dos membros do casal, mas pela opção de vida que estes tomam. Não se definem direitos, ou ausência deles, em função da suposta pertença a um determinado grupo. A unidade relevante perante a lei deve ser sempre o indivíduo e não se lhe podem definir atributos a priori, independentemente da relação concreta com a realidade de vida dessa mesma pessoa. Se duas pessoas - um homem e uma mulher, dois homens, ou duas mulheres - querem assumir os compromissos que o casamento confere e aceder aos direitos que consagra, não se percebe como a orientação sexual deva ser um entrave. Quanto às plantas, aos animais e às coisa, segundo consta, ainda não são sujeitos passíveis de IRS e, uns mais que outros, denotam alguma dificuldade em manifestar o seu consentimento em relação aos contratos a celebrar, pelo que podemos, para já, deixá-los de lado nesta equação.

Adenda: Este post nasceu inspirado por esta troca de comentários.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Recomendação

Já recomendados pela Helena, três posts excelentes da Rita Dantas (1, 2, 3).

Um mau profissional

Como seria de esperar, a direita estrebuchou com a saída de José Manuel Fernandes do Público. Caiu-lhe mal uma declaração de intenções, em forma de editorial, a constatar o óbvio: que o Público se afastou demasiado do jornal de referência que já foi e que é necessário arrepiar caminho se pretende voltar a sê-lo.

Durante a direcção de JMF, o Público perdeu leitores, perdeu colaboradores, perdeu o rigor, perdeu qualidade, perdeu credibilidade e perdeu a vergonha. Dizer que, para os que celebram a saída de JMF, o problema era o seu alinhamento político à direita é um equívoco, ou uma falácia. O problema de JMF, como qualquer pessoa provida de equilíbrio e bom senso atestará, foi o hipotecar um património jornalístico rico e reconhecido em troca de um projecto político (mal) encapotado. O problema de JMF nunca foram os editoriais que escreveu, mas a cultura de subalternização dos princípios deontológicos e éticos do jornalismo em função dos seus interesses ideológicos que implementou.

Para além de tudo o que de mau aconteceu ao Público sob a batuta de JMF, convém relembrar, por exemplo, que, com ele, este foi um jornal onde saber escrever não era um requisito para chegar a editor e onde a fabricação de contextos falsos para encobrir fontes não suscitou quaisquer pudores.

Ninguém aponta o dedo a JMF por ser de direita. Aponta-se-lhe o dedo por ser mau profissional. Somente.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Mudar de ares

O primeiro editorial da nova era do Público não hesita em, descaradamente, terminar com uma dose muito generosa de graxa aos seus leitores. Faz bem. Os leitores do Público foram tomados por parvos demasiadas vezes nos últimos tempos. Sabe-lhes bem a mudança.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

(Semi)autobiografias

Levantou-se alguma poeira depois de Andre Agassi ter admitido o consumo de drogas em determinado momento da sua carreira. Mais interessante do que entrar na polémica sobre o impacto das drogas no desporto e nas mitologias construídas em torno das suas vedetas, é perceber por que é que já ninguém espera por ser velho para escrever uma autobiografia.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Segunda Circular

Nunca o Sporting me tinha proporcionado tantas alegrias em tão pouco tempo.

Brincadeiras à parte, e num registo mais sério, nunca o Sporting me tinha proporcionado tantas alegrias em tão pouco tempo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O último dia

Se apenas os resultados deste ano eleitoral contassem, Ferreira Leite teria toda a legitimidade para permanecer como líder do PSD até ao fim do mandato e, querendo, apresentar-se novamente como candidata. Mesmo a derrota expressiva nas legislativas e o recuo nas autárquicas permitem, pelo menos, o cumprimento integral do seu mandato. Mas não são apenas os resultados eleitorais que contam. As escolhas que a direcção do PSD impôs, especialmente João de Deus Pinheiro e António Preto, comprometem seriamente a liderança. Deus Pinheiro renunciou ao mandato de deputado e António Preto suspendeu-o, o primeiro alegando razões pessoais e o segundo para responder às acusações judiciais que sobre ele pendem. Se uma derrota eleitoral não é algo que, necessariamente, deva levar ao afastamento de um líder partidário, os casos de Deus Pinheiro e de António Preto resultam na negação de tudo o que o PSD pretendeu representar nestes últimos meses. Sendo nomes apontados e impostos por Ferreira Leite, a sua responsabilidade política sobre este desfecho é inquestionável. Um caso e outro fragilizam-na para lá do aceitável e demonstram uma incoerência com um preço muito alto. Porque há sempre quem tenha dificuldade em perceber, ou em aceitar a realidade, convém deixar clara a posição actual da liderança do PSD. Ontem foi o último dia com legitimidade política para se manter em funções.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mitologia da verdade

O cabeça-de-lista do PSD por Braga foi deputado durante uns estonteantes 30 minutos. O tempo que Deus Pinheiro, uma escolha de Ferreira Leite, dedicou ao cargo impressiona e deixa bem claro o respeito que a vida política, as instituições e os eleitores merecem ao agora ex-deputado e ao seu partido.

Percebe-se, assim, que a indignação do PSD pelas candidaturas duplas do PS era apenas um artifício eleitoralista. Como já se tinha percebido, com a imposição por Ferreira Leite de António Preto e Helena Lopes da Costa, que a seriedade era apenas uma palavra sem significado real. E como já se percebeu, pela forma abrupta como o PSD deixou cair o tema da "asfixia democrática", que teria o dever cívico e político de defender até à exaustão no interesse do país e dos eleitores, que tudo não passou de uma estratégia sem outro objectivo que não fosse o de angariar votos no dia 27 de Setembro.

Um a um, os mitos montados em torno da liderança de Manuela Ferreira Leite vão caindo sem apelo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Causa - efeito

Não deixa de ser curiosa esta forma de pretender desvalorizar alguém recorrendo ao nu. Não apenas pelo que revela das representações sobre o corpo, sobre a mulher e sobre a sexualidade, mas também porque, como parece ser evidente, neste caso concreto, não produzirá necessariamente o efeito desejado.

Acordar tarde

Subitamente, Portugal parece ter despertado para o facto de ser motivo de troça no Brasil. Subitamente também, a blogosfera parece ter despertado para os nus de Maitê Proença. Como os menos atentos poderão testemunhar, tanto um como a outra acordaram tarde.

sábado, 3 de outubro de 2009

O problema

Volta a surgir a tese, como já se tinha ouvido nos anos 90, que afirma que Cavaco é um poço de integridade. O problema está nas pessoas que o rodeiam. Percebe-se facilmente a tentativa de branqueamento e desculpabilização. Mas o problema não são as pessoas que o rodeiam - ainda que fosse, 25 anos rodeado das mesmas pessoas sem perceber o seu calibre teria muito que se lhe diga. O problema está mesmo no homem que as escolhe para o rodearem.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O fim de uma era (espera-se)

José Manuel Fernandes deixa a direcção do Público a partir de 31 de Outubro. Será difícil, à sua sucessora, fazer pior do que os 11 anos de abastardamento daquele que já foi um dos melhores diários europeus.

Aftermath

Cavaco conseguiu transformar Sócrates numa referência de estabilidade e de sentido de estado.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ilusões

Só de desilude quem um dia acalentou esperanças. Só se surpreende com o teor das declarações de Cavaco quem um dia confiou no seu discernimento e na sua sageza política. Cavaco é um homem sem visão, sem mérito profissional nem político. Os anos de desperdício de fundos comunitários aplicados em betão, em vez de apoiar uma reestruturação do tecido económico português, estão aí para o provar à saciedade.

A intervenção de Cavaco não possui coerência interna nem externa. Os argumentos utilizados não são coerentes entre si e não são coerente com a realidade a que deviam reportar. Existem erros e omissões que só serão possíveis da parte de quem tem um entendimento muito limitado das questões que aborda ou da parte de quem quer travestir a realidade em outra coisa que lhe convenha. Em qualquer dos casos, a Presidência da República está muito mal entregue.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Resumo

O melhor resumo do comportamento de Cavaco Silva nas últimas semanas, incluindo a triste prestação desta noite, foi apresentado pela Maria João Pires: um presidente institucionalmente anão.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O que é que António Costa pretendia provar?

Simplesmente, isto. Ilustrado com fotografias e tudo, para ser mais fácil ao João Miranda perceber o que está em causa.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Responsabilidade

A comunicação social detém o enormíssimo poder de ser o principal, e muitas vezes único, ponto de mediação entre o cidadão e a realidade política. Com o seu trabalho, a comunicação social permite o controlo sobre os agentes políticos que não está ao alcance do comum cidadão. A responsabilidade social e moral que se impõe perante tal poder é, igualmente, enorme. A conduta do Público na forma como optou por noticiar alegadas suspeitas da PR, com o patrocínio e cobertura do seu director, escapa a tudo o que é de mais elementar na ética e deontologia da profissão do jornalismo. As debilidades da democracia também passam - e se passam - por aqui.

Um mau prenúncio

Das próximas legislativas dificilmente sairá um governo estável. No momento em que o país mais precisava que da Presidência da República viessem sinais sólidos que ajudem a ultrapassar os obstáculos que as clivagens partidárias vão colocar à governabilidade, Cavaco decidiu hipotecar a sua eventual força e credibilidade para apostar tudo no apoio desesperado e muito pouco discreto ao PSD de Ferreira Leite. As decisões fazem os políticos. Se Cavaco não tiver a dignidade de se demitir, e não é de crer que a tenha, a vida não será fácil para os lados de Belém no tempo que sobra a esta presidência.

Cavaco I, o cínico

Como é fácil de entender, e já tem sido bastante repetido por diferentes sensibilidades, a decisão de afastar Fernando Lima chega tarde. Demasiado tarde. O afastamento do assessor, não tendo acontecido nos dias que se seguiram às notícias do Público, mas só quando o DN desmascarou a concertação, apenas se reveste de um cinismo preocupante numa figura política que devia ter melhor noção das exigências do cargo que desempenha.

Leitura política

Lendo o que os blogues politicamente alinhados à direita têm escrito sobre a articulação entre Belém e o Público para criar um pseudo-caso, fica-se com a impressão que esta gente ou ensandeceu ou acha que somos todos parvos. A PR monta um suposto "caso" para, conscientemente, minar a imagem do governo e do partido que o apoia e um jornal dito de referência presta-se a veículo de manipulação política grosseira, ignorando tudo o que é de mais elementar bom senso na prática jornalística - e tudo isto em tempo de eleições -, mas a preocupação desta gente é com o papel desempenhado pelo DN. O DN fez o trabalho que lhe competia. Perante acusações feitas em público, conseguiu indícios fortíssimos, os quais, após ausência de desmentido, podem ser considerados provas do envolvimento da PR num plano para influenciar o resultado das eleições que se avizinham. Investigou, confirmou, publicou.

Temos um órgão de soberania a violar dolosamente os seus deveres constitucionais, apoiado pelo frete de um jornal que prescindiu há muito da integridade e do brio profissional, e, pelo meio, um grupo de fanáticos que finge não perceber a gravidade da situação.

A partir do momento em que não há desmentido sobre a veracidade do email publicado pelo DN, a primeira leitura política a fazer é que Cavaco deixou de ter condições para continuar em Belém. Obviamente, é esta leitura que a direita vai tentar evitar a todo o custo. Muita poeira vai ser lançada para o ar nesta última semana de campanha.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Não é por aí (2)

O post do João Miranda apoia-se em duas falácias. A primeira é que, tal como é formulada, a pergunta que o encerra leva a que se considere as opções apresentadas como mutuamente exclusivas. Em segundo lugar, enquanto a dívida pública é medida em percentagem do PIB, o desempenho a nível de infraestruturas é medido pela percepção que os respondentes têm da qualidade destas. Dificilmente podemos usar estes indicadores a não ser para criar cortinas de fumo.

Não é por aí

Há ideias, como este texto do João Miranda, que não devia ser preciso explicar muito melhor para se perceber as suas limitações. E não devia ser preciso explicar porque, mesmo sem ser economista, qualquer pessoa devia compreender a diferença entre valores relativos e valores absolutos.

Se Portugal, numa lista de competitividade global, ocupa o 23º lugar em vias ferroviárias e, por outro lado, o 117º em dívida pública, dificilmente daí se retira outra informação que não seja o facto de haver, respectivamente, 8 e 116 países melhor colocados que o nosso. Mas, com base exclusivamente nas posições ocupadas na lista, nada nos pode fazer avaliar o grau das diferenças que se verificam. Por exemplo, em termos de dívida pública, medida em percentagem do PIB, o 116º país da lista pode apresentar uma diferença em relação a Portugal de menos de metade ou de uns meros 0,2 pontos percentuais.

As estatísticas não se usam sem enquadramento. Os números, por si mesmos, valem pouco. Devem ser sempre contextualizados, comparados e interpretados. O resto é demagogia ou desinformação. Exemplificando, e para que fique mais claro qual o nível de demagogia ou de desinformação, o país que ocupa o primeiro lugar no ranking da competitividade em termos de dívida pública é Timor-Leste.

Se Portugal deve privilegiar a redução da sua dívida pública é uma discussão que, com toda a legitimidade, se pode e deve fazer. Mas não são os lugares relativos numa lista que nos permitem fazê-la com rigor e objectividade.

Um Movimento sem mérito

A campanha mais visível do Movimento Mérito e Sociedade tem consistido numa crítica violenta ao sistema político-partidário. O MMS assume uma vontade de capitalizar o descontentamento e, para tal, não hesita em recorrer a uma estratégia que passa sobretudo por denegrir os restantes actores políticos.

Não é privilegiando a visibilidade dos ataques em detrimento da das propostas que se eleva o nível do debate político em Portugal. O MMS pode alegar que o dinheiro de que dispõe é pouco e obriga a alguma ginástica criativa. Mas também ninguém pode ignorar que quando o assunto é a política, os princípios devem figurar no topo das prioridades dos intervenientes. Para um partido que incluiu a palavra mérito na sua denominação, ironicamente trilha caminhos que se afastam bastante do que seria de esperar.

Os partidos e seus representantes que o MMS tem atacado são precisamente aqueles que têm recebido a confiança de quem se dá ao trabalho de ir votar. O MMS acaba, com a sua estratégia, quer o tenha percebido ou não, por atacar tanto os eleitos como os eleitores. Não é seguro que este posicionamento traga vantagens eleitorais, mas, em caso afirmativo, elas não poderão vir de outro lado que não seja o dos descontentes, dos ressentidos e dos desconfiados. O Movimento Mérito e Sociedade, que, como se viu, prescinde facilmente do mérito, privilegia e promove, assim, uma parte muito curiosa da sociedade. De um partido com esta linha de acção não se pode esperar nada de muito positivo.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A Madeira como exemplo

Para quem tem feito do conceito de "asfixia democrática" uma bandeira de campanha, escolher a governação de Alberto João Jardim como exemplo do que o PSD tem para oferecer diz muito mais da postura política de Manuela Ferreira Leite do que as quarenta páginas de banalidades apresentadas como propostas eleitorais ou o matraquear exaurido sobre a "política de verdade".

Recordemos que a Madeira é um sítio onde se pode abater a tiro, impunemente, um balão de propaganda de um partido da oposição, ou onde se impede ilegalmente o acesso ao parlamento local de representantes eleitos. Sobre estas e outras situações exemplares, Manuela Ferreira Leite conserva um silêncio elucidativo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ponto de partida

Não devia ser preciso recordá-lo, mas, nesta altura, todos os esclarecimentos sobre o cancelamento do Jornal Nacional cabem à TVI, à Media Capital e à Prisa. Julgo que é do mais elementar bom senso, seriedade e interesse público que se comece por aí. Depois, e consoante o grau de pertinência das justificações apresentadas, ou na sua ausência, podemos permitir-nos variados exercícios de especulação. Estamos a pouco mais de 3 semanas das eleições. Há tempo de sobra para fazer tombar primeiros-ministros. Ou líderes da oposição.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Truques de campanha

No Largo do Rato, os responsáveis pela campanha do PS acreditaram durante muito tempo que a "marca" José Sócrates era uma mais valia. Os mais recentes outdoors do partido parecem inverter essa tendência, apostando antes nas políticas implementadas ao longo dos últimos quatro anos. Por seu lado, na Santana à Lapa, o trunfo de campanha assenta na repetidíssima tecla da "verdade" e numa gestão de silêncios que emula o truque que levou Cavaco Silva até Belém. Entretanto, a inclusão de António Preto e Helena Lopes da Costa nas listas das legislativas encarregou-se de mostrar, de forma rápida e inequívoca, os limites da "política de verdade" do PSD. Quanto à gestão de silêncios, por muito que Ferreira Leite queira colar a sua imagem à do Presidente, nada leva a crer que a estratégia volte a resultar. O contexto não podia ser mais diferente e o PSD engana-se se pensa que pode extrapolar o que aconteceu nas presidenciais para o cenário das legislativas.

Fraquinho, fraquinho

O programa eleitoral do PSD chega tarde e promete muito estudo e muita ponderação. Em si mesmos, são bons princípios políticos. Mas quando é preciso, mais do que nunca, uma posição enérgica dos governos, o que o PSD nos pede são mais uns meses para pensar melhor sobre o assunto. Ferreira Leite confirma, assim, caso os eleitores não tenham memória do que foi o seu desempenho como ministra da educação de Cavaco Silva e ministra das finanças de Durão Barroso, que a sua preparação para governar o país se encontra muito abaixo do limiar do aceitável. Se fosse verdade que a disputa eleitoral se resume a um confronto entre figuras políticas (basta a antevisão do desmantelar da função social e de providência do Estado no programa do PSD para deitar por terra essa falácia), Manuela Ferreira Leite dá um bom sinal da tibieza que grassa na liderança do PSD.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Política falhada

Nos anos 60 e 70, o estado da Califórnia podia orgulhosamente apresentar-se como possuindo um dos sistemas prisionais com melhor desempenho a nível nacional e mundial. A lotação dos estabelecimentos encontrava-se bem dimensionada, os programas de reinserção social funcionavam a bom ritmo e as taxas de reincidência estavam abaixo da média. Depois disso, veio a guerra contra a droga e uma série de medidas legislativas que endureceram a penalização dos condenados. As penas aumentaram, a elegibilidade para liberdade condicional ficou consideravelmente mais difícil de obter, os programas de reinserção deixaram de ser modelos a seguir, as taxas de reincidência aumentaram brutalmente e a sobrelotação dos establecimentos atingiu níveis que o Supremo Tribunal considerou abaixo do limiar da dignidade humana, levando-o a conceder um prazo à Califórnia para encontrar uma solução para o seu sistema prisional.
O líder do CDS-PP não foi o primeiro a preconizar "políticas muito mais firmes" no domínio da segurança. Já outros o fizeram antes dele, em variados contextos, mas sempre tendo o populismo como denominador comum. Ironicamente, como a Califórnia descobriu com amargura, "políticas mais firmes" não são sinónimo de sociedades mais seguras, muito pelo contrário. Pensar a segurança acreditando que a óptica penal deve ser a pedra de toque das estratégias adoptadas é uma miopia política que, a prazo, sai cara a todos os níveis.

Uma estranha forma de ser

A inumeracia, como nos recordam vários estudos, é um dos problemas de défice de competências dos portugueses. Saber minimamente trabalhar com números não é apenas uma questão de saber fazer contas. É, sobretudo, uma questão de raciocínio lógico. No Margens de Erro, Pedro Magalhães recupera uma crónica de António Ribeiro Ferreira que ilustra bem este fenómeno. O "grande repórter" do Correio da Manhã, em poucas linhas, revelando toda a sua ignorância sobre o que é a estatística e como se elabora uma sondagem, considera desde já que é inadmissível que as próximas sondagens apresentem outra coisa que não sejam resultados conclusivos. No planeta em que ARF vive, margem de erro, nível de confiança, métodos de amostragem e de aplicação dos questionários são tudo pormenores que não devem interferir na obtenção dos resultados que os preconceitos deste candidato a iluminado da nação já estabeleceram como aceitáveis.
O resto da prosa de ARF é um tratado de pequenos ódios, ressentimentos e preconceitos difíceis de digerir. Que se possa chegar a "grande repórter", nem que seja do jornal da região, sem demonstrar a menor vontade de estudar e perceber do que se fala é um triste diagnóstico do estado da comunicação social portuguesa. São pessoas deste calibre que escolhem, editam e relatam a realidade económica, social e política do país.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Fazer juízos

Como Hannah Arendt fez notar, o juízo é uma capacidade humana por excelência. Abdicar de a usar é abdicar da própria centelha da humanidade que reside em cada um de nós.

Manual de más práticas

Perante as câmaras da RTP, Manuela Ferreira Leite deixou, ontem, mais uma pérola sobre o que não é fazer política. A líder do PSD não quer saber da veracidade das suspeitas lançadas pela Casa Civil da PR, basta-lhe o sentimento de desconfiança, neste caso alimentado artificialmente e à força pela comunicação social, que possa existir na sociedade. Para quem reclama por uma política de verdade, não está mau.

O aforismo "em política o que parece é", obviamente, não é política. É propaganda. Mas ainda que fosse aceitável, neste caso, o que parece é que a PR tem umas contas a ajustar com o governo, faltando-lhe o engenho e a subtileza para arquitectar uma história decente. Valha-lhes a boa vontade de José Manuel Fernandes, capaz de transformar um boato indigno d'O Crime em manchete do Público.

Não se acusa sem provas nem se faz pender sobre o acusado o ónus da prova. Deve repetir-se isto à exaustão, independentemente de simpatias políticas. Por honestidade, por decência e por utilitarismo. Um dia, pode ser connosco.

Quem escreve um conto acrescenta um ponto

A campanha de desinformação do Público continua em força. O que começou por uma "perplexidade" de um membro da Casa Civil da Presidência da República, que chega a admitir a hipótese de haver fugas de informação internas, embora isso nunca tenha sido valorizado na redacção de José Manuel Fernandes, e por um adjunto do governo sentado em mesas para as quais não foi convidado, passa, nesta quinta-feira, a "denúncia de escutas na Presidência e de assessores de Belém a serem vigiados pelo Governo ou PS". Com pequenas subtilezas se vai influenciando a percepção que os leitores têm de determinada situação. Depois torna-se mais fácil falar de asfixia democrática.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Embrulha

"Em declarações ao PÚBLICO, Pinto Monteiro disse entender que 'neste momento, não há lugar a qualquer tipo de averiguação, visto que não existe nenhum facto concreto'. E salienta que 'não comenta comentários'."

Abaixo das exigências

Surpreendentemente, há muita gente, que devia ter mais juízo, a levar a sério a composição de Verão que o Público resolveu publicar. Mas, por outro lado, também houve muita gente a pensar que Cavaco Silva estaria à altura do cargo. Nunca esteve e continua a não estar.

A situação é simples: ou a Presidência, de forma oficial, concretiza as insinuações e age em conformidade, ou se distancia do comportamento irresponsável de um dos seus assessores, tirando igualmente as ilações que não pode deixar de tirar. O silêncio, neste caso, mais não é que cumplicidade com a lama.

A Presidência a quem parece que poderá ter acontecido não sei quê (2)

Na era do progresso incessante das novas tecnologias, na era dos computadores e dos softwares, da electrónica e da miniaturização, a Presidência da República suspeita que o governo terá recorrido ao sofisticadíssimo e muito subtil método de pedir a um adjunto que se sentasse na mesa dos assessores de Cavaco sem ser convidado. São estes os fundamentos que suportam uma das mais graves suspeições (a mais grave?) alguma vez lançada sobre um executivo no pós 25 de Abril. Se não fosse trágico, seria cómico.

Mesmo?

A sério: são estas as pessoas que queremos ter à frente do país nos próximos anos?

Muito, muito, muito bom

O Watergate mais curto da história.

Ensaio sobre a cegueira

É preciso não esquecer que o Público é, hoje em dia, um jornal no qual retirar 200 mil idosos da pobreza dá direito a nota negativa para Vieira da Silva na última página da edição.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A Presidência a quem parece que poderá ter acontecido não sei quê

As declarações do anónimo membro da Casa Civil da Presidência da República são: "Como é que os dirigentes do PS sabem o que fazem ou não fazem os assessores do Presidente? Será que estão a ser observados, vigiados? Estamos sob escuta ou há alguém na Presidência a passar informações? Será que Belém está sob vigilância?"

Nas restantes duas páginas que o Público dedica à (não) notícia, nada - absolutamente nada - permite suportar estas gravíssimas insinuações. Qualquer político munido de um mínimo de bom senso ou e de um mínimo de entendimento sobre o que é o relacionamento entre instituições, e entre estas e os eleitores, não pode, em circunstância alguma, confundir as suas perplexidades com matérias passíveis de serem partilhadas com jornalistas. Mas, em Belém, esta foi a forma encontrada para atacar o governo e o PS em plena pré-campanha eleitoral. A mesma Presidência que pediu uma limitação à actividade legislativa, a propósito da discussão de temas que alguns gostam de apelidar de fracturantes, sanciona agora a lama como forma de fazer política.

Temos, então, uma instituição política com o peso da Presidência da República a recorrer à insinuação rasteira e à manipulação barata e um jornal, dito de referência, a prescindir da investigação, dos factos e do juízo crítico para se transformar em mera correia de transmissão dos interesses eleitoralistas de uma força partidária. Mas o problema, para estas almas caridosas, reside sempre nos outros.

Vergonha na cara

Se o PSD, pela voz de Aguiar Branco, desmente peremptoriamente a participação de quem quer que seja ligado à Presidência na elaboração do programa eleitoral do partido, então como é que alguém, ainda que de forma dissimulada, poderia escutar conversas nesse sentido?

Se o Público ainda fosse um jornal sério, a vergonha na cara nunca permitiria que uma capa como a do dia de hoje fosse publicada.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Os jovens

"Estou a apanhar o comboio para casa em Belém", disse, ao telefone, a rapariga que passeava na 24 de Julho.

Escolhas

A menos de 2 meses das eleições, com o país e o mundo ainda a viverem os efeitos da maior crise financeira e económica em muitas décadas, o PSD de Manuela Ferreira Leite, que não chegou ontem à liderança do partido, não consegue apresentar sequer as linhas gerais de um programa de governo. Os eleitores terão que perguntar a si próprios, dentro de poucas semanas, se são estas as pessoas que querem com a responsabilidade de responder a uma crise que, consensualmente, está longe de ter chegado ao fim.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Da desconfiança (2)

No momento em que a desconfiança generalizada passa por opinião crítica informada sabemos que o mal da democracia neste país é ainda mais profundo. Desta confusão entre duas linhas de pensamento tão distante resultam dois fenómenos nefastos. O primeiro é o de tender a afastar os que prezam o seu bom nome e a sua honra. Se da participação cívica na política o que sobressai é a desconfiança infundamentada, então quem quererá submeter-se de ânimo leve a tal estigma? O segundo inconveniente é que, quando o que se espera dos políticos é que sejam interesseiros e corruptos, estamos a convidar muito boa gente a agir de acordo com as expectativas que foram traçadas. Se as pessoas esperam que fulano seja ladrão, não é certamente roubando que ele desiludirá a comunidade. Com esta atitude, a única coisa que se consegue é limitar a renovação da classe política e diminuir os constrangimentos sociais para o incumprimento das leis.

Da desconfiança

Medina Carreira, em entrevista à SICN, define o poder como um "lugar para tratar da vida e dos negócios (...) para empregar os primos, os tios, para fazer negócios de auto-estradas e outras coisas no genero." Que há quem aproveite o exercício do poder para seu ganho pessoal não merece grande contestação. Se não houvesse evidências, bastariam as leis da estatística para não nos permitir afastar peremptoriamente essa possibilidade. Mas que se reduza o exercício do poder ao nepotismo e ao amiguismo, que se imponha a desconfiança generalizada sobre todos os agentes do sistema político, não pode deixar de ser considerado como outra coisa que não uma afirmação que deve mais à desilusão do que à argumentação racional. Este é o tipo de insensatez e preconceito que se pode esperar ouvir pelos cafés e praças do país. Mas das elites responsáveis espera-se outra coisa. Espera-se, por exemplo, que compreendam que a promoção da desconfiança generalizada no sistema e nos seus agentes apenas contribui para diminuir a qualidade da democracia que temos.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Coisas graves

Lido. De fio a pavio, de um fôlego só, que é como se devem ler blogues, e com o mesmo prazer de sempre.

Isto não é um regresso (2)

Dentro de dois meses podemos ter Ferreira Leite no governo, Santana Lopes na CML e, obviamente, Cavaco Silva em Belém. Quem achar que estaremos melhor assim que mantenha o estupor.

Isto não é um regresso

Pode não chegar ao fim do ano. Pode não chegar ao fim do mês. Pode não chegar a amanhã.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Love that dog

Love that dog,
like a bird loves to fly
I said I love that dog
like a bird loves to fly
Love to call him in the morning
love to call him
"Hey there, Sky!"

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Eterno retorno

Lift up your feet and put them on the ground
You used to walk upon