quarta-feira, 31 de março de 2010

Certo, certíssimo

A polémica aquisição dos submarinos foi levada a cabo, em 2004, pela coligação PSD-PP. O Bloco de Esquerda, que "sempre alertou para a necessidade de 'transparência' em relação a este negócio" e se mostra "muito preocupado" e interessado na "busca da verdade", pede esclarecimentos rápidos ao governo PS. Faz todo o sentido.

Responsabilidade

Regressando aos temas da actualidade, um dos incontornáveis é o da pedofilia. A Igreja Católica, a este propósito, tem sido atacada por muitos lados, mas convém dizer claramente que, igualmente muitas vezes, de forma injusta. O problema que se coloca à Igreja não é o dos casos de padres pedófilos, da mesma forma que o problema que se coloca à política não é o dos políticos corruptos. Tanto a uma como a outra, as questões maiores que enfrentam são a do encobrimento e da impunidade.

Não é fácil conceber como um Estado de direito democrático pode, de forma aceitável, erradicar o crime - assuma ele a forma de pedofilia, tráfico de droga, homicídio, ou outra qualquer. Evidentemente, o sofrimento de uma só criança que seja é intolerável. Na ausência de informação que corrobore a ideia (com quase toda a probabilidade, errada) de que o celibato contribui de alguma forma para a pedofilia, importa compreender que esta última surge essencialmente ligada à figura da autoridade. Quer seja no meio familiar, quer seja em meios de socialização secundária, como escolas, orfanatos ou grupos religiosos, o que está em causa é a relação que se constitui entre os abusadores e as suas vítimas, uma relação de poder em que os primeiros o exercem quase na exclusividade. Podemos, eventualmente, discutir os méritos e deméritos deste tipo de relação para a formação da personalidade de uma criança. Mas isso, no âmbito do tema dos escândalos de pedofilia que têm visto a luz do dia, é iludir o principal. O que deve, em primeiro lugar, merecer atenção não é como foi isto acontecer, mas como foi possível conservar o silêncio tanto tempo.

Como foi possível encobrir e proteger crimes desta natureza? Como foi possível que ninguém tivesse sido responsabilizado judicialmente? Discutir a existência de uma crime numa sociedade livre é, muitas vezes, discutir o sexo dos anjos. O que se espera de uma democracia é o debate permanente e sem preconceitos dos seus processos de responsabilidade e responsabilização individual.

Das férias 2

Porque um blogue também serve para estas coisas, seria uma enorme injustiça se não aproveitasse este espaço para o elogio dos anfitriões. Podia dizer que já não há pessoas assim, mas não estaria a ser sério. Os membros mais novos da família provam não só que continua e continuará a haver pessoas assim, como que quem sai aos seus não degenera. Onde vai aquela gente buscar a energia para levar a vida preenchida que tem e ainda acomodar e apaparicar três hóspedes durante quase duas semanas é algo que ainda me escapa. Suspeito que tenha algo a ver com muesli e comida biológica. Isso e o coração desmesurado que têm no meio do peito a bombear-lhes, em doses iguais, oxigénio e carinho.

Das férias

Há dois tipos de férias. Aquelas em que vamos para locais um bocadinho piores que o nosso e aquelas em que vamos para locais um bocadinho melhores que o nosso. Nestas duas semanas de ausência, optei pelo segundo tipo. E cunhei um novo termo para uso pessoal: turismo político. Visitar cidades e países onde as instituições sociais e políticas funcionam de uma forma que suscita uma certa inveja.

domingo, 14 de março de 2010

Um partido com humor, mesmo que involuntário

O PSD, que anda há ano e meio com a "asfixia democrática" na boca, aprovou uma alteração de estatutos que impede a crítica política interna. Faltar à lealdade para com o programa, estatutos, directrizes e regulamentos do partido pode dar direito a suspensão ou expulsão. A proposta, que já de si é bastante ridícula, surge num timing perfeitamente anedótico.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Coisas que me escapam

O celibato potencia a pedofilia porque...?

Uma reflexão e uma pergunta

Para reflectir: este pequeno texto de João Lopes.

A pergunta: as lógicas que presidem ao debate político nos blogues são muito diferentes do que está a acontecer ao debate político nas televisões?

Trade-off

Foi lançada uma petição pelo cinema português. Do diagnóstico ali feito ao estado do cinema em Portugal, parecem-me faltar dois pontos bastante relevantes. Mesmo dando por garantido que sem dinheiro dificilmente há milagres (com honrosas excepções), faltou dizer que há projectos de qualidade abaixo de sofrível nos quais é obsceno injectar dinheiro de quem quer que seja sem serem os próprios promotores. E faltou equacionar o espectador como fonte de receitas que viabilizem os projectos para lá dos apoios públicos.

Isto dito, e concordando com as boas intenções expressas, gostaria de ver satisfeito apenas um desejo antes de juntar o meu nome ao das quase 850 pessoas que assinaram a petição até este momento. Como é de dinheiros públicos que falamos, gostaria que os promotores desta petição abrissem as portas das suas produtoras, já na próxima segunda-feira, às inspecções das Finanças, da Segurança Social e da ACT. Façam-me esta gentileza e eu assino na própria hora.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Género

Porque ainda há muito quem não saiba a diferença entre as duas coisas, e porque hoje o dia se proporciona a isso, aqui fica uma pequena clarificação. As diferenças de sexo são biologicamente determinadas. As diferenças de género são socialmente definidas. O género é um conceito empregue pelas ciências sociais, não é um tique linguístico desprovido de conteúdo, como por vezes se quer fazer passar. Desvalorizar ou ridicularizar o uso do termo revela apenas ignorância e preconceitos.

Manifesto político

Cavaco? Sou contra.

Declaração de voto

Cavaco quer recandidatar-se a Belém? Sou contra.

domingo, 7 de março de 2010

Apostas arriscadas

"(O) Público distinguiu-se por ser um jornal com alma, com emoção, por fazer um jornalismo frontal, mesmo quando para isso passou por apostas editoriais e informativas arriscadas."

José Manuel Fernandes, condensando 11 anos à frente do Público num fantástico eufemismo.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Nos 20 anos do Público

Três perguntas:

- É muito difícil garantir regularmente um jornal com o nível de conteúdos da edição de hoje?

- Luciano Alvarez ainda é editor de política do jornal?

- Quanto tempo se pode ser editor no Público sem saber escrever português?

quarta-feira, 3 de março de 2010

Sexismo explícito é isto

Segundo o Público, a Apple acaba de lançar uma aplicação para o iPhone que pode ser usada por "todos os maridos que enganam as mulheres". Ficamos ansiosamente à espera do dia em que o Público noticie uma aplicação concebida para mulheres que enganam os maridos.

terça-feira, 2 de março de 2010

Estado de direito

O ataque aos direitos, liberdades e garantias, por natureza, mina os fundamentos do estado de direito. Quando não se respeita a fronteira entre o domínio público e o domínio privado, quando é a intolerância política a pautar a agenda, quando se reduz o outro a uma caricatura maniqueísta, quando se incentiva e premeia a delação, a sociedade que daí resulta vê destruída a rede que confere a cada um dos seus membros a segurança básica para participar na vida cívica. Há quem alimente este estado de coisas por interesses políticos, há quem o faça por interesses económicos e há quem o faça por manifesta falta de inteligência para perceber uns e outros. No meio da histeria, fala-se em sistemas de videovigilância, em acabar com sigilos profissionais e em tornar públicos os rendimentos privados. Viola-se grosseiramente a presunção de inocência e o direito à privacidade em troca de algo que até pode ser a justiça das milícias, mas nunca a justiça de um estado de direito democrático. É mais saudável a sociedade que aceita os preços da liberdade do que aquela na qual ninguém está a salvo da espionagem e da coacção.

Sarjeta

Um dos meus professores na faculdade, para ilustrar a importância do sentimento de proximidade social como factor de percepção do conteúdo das notícias, costumava dizer que lhe passavam sempre ao lado as notícias sobre crimes de sangue, excepto se a vítima fosse docente do ensino superior. Dentro desta lógica, a manchete de hoje do jornal i tem tudo para captar a atenção de quem escreve e acompanha blogues.

Rapidamente se percebe, lendo o Jumento, mas também o Eduardo Pitta e o Tomás Vasques, entre outros, que o texto assinado por Paulo Pinto Mascarenhas é tudo menos trabalho de jornalismo. São sonegados e deturpados factos relevantes e atenta-se contra o direito à privacidade a troco de umas letras gordas para vender papel.

Há dias, o jornal Metro avançou com uma capa que é outro marco histórico da degradação da objectividade e sentido crítico no meio jornalístico. Tanto no caso do Metro como no do i, temos artigos com direito a manchete na capa do jornal, o que implica o compromisso de muito mais do que o autor da peça. Uma capa não se define à revelia dos editores e do director da publicação. Num e noutro caso, foi toda uma equipa que contribuiu de forma activa e consciente para um resultado que serve apenas o propósito de desinformação que tem vindo a instalar-se na comunicação social.

A ética e o profissionalismo das redacções estão na sarjeta.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Esguichos de Miguel Silva

Concluindo, a emancipação da mulher e o planeamento familiar dão cabo da natalidade (os baixos salários e a precariedade laboral são conceitos estranhos ao senhor tenente-coronel piloto aviador). A imigrantada vem dar-nos cabo do país. Gastamos dinheiro estupidamente com desempregados, toxicodependentes e presidiários e ainda queremos impor a educação sexual nas escolas. Mas, acima de tudo, o que indigna o senhor tenente-coronel piloto aviador é que se tenha mandado tirar os crucifixos das escolas e que se tenha aprovado o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O senhor tenente-coronel piloto aviador escreveu muito no seu delírio, mas o seu texto pode resumir-se numa única palavra: foda-se. Um longo, arrastado e estupefacto foda-se.

Os meus emigrantes são melhores que os teus

"A tudo isto é necessário juntar os fluxos emigratórios e imigratórios. Isto é, por um lado os países ocidentais vêem chegar ao seu território milhões de seres de outros continentes que estão a desfigurar as suas nações e vêem partir, por outro lado, os seus melhores cérebros, que procuram realizações pessoais em países mais avançados, ou de oportunidade."

Portanto, os seres de outros continentes vêm desfigurar as nações ocidentais. Já os nossos emigrantes partem em busca de realizações pessoais ou de oportunidades. Ora, assim de repente, o que é que diferencia facilmente os seres de outros continentes do pessoal que habita os países que eles estão a desfigurar? Caramba, será a cor da pele? Olha, tu queres ver que o senhor tenente-coronel piloto aviador afinal é mesmo racista?

Um pequena diferença

"A demografia tem sido escamoteada com os nascimentos de filhos de emigrantes o que não é propriamente a mesma coisa que nascerem nacionais. A propaganda que favorece e escamoteia tudo isto tomou o nome de “multiculturalismo”. Não estamos a defender ideias racistas (...)."

Não, de facto, o senhor tenente-coronel piloto aviador Brandão Ferreira não está a defender ideias racistas. A isto chama-se xenofobia.

Grandes mistérios do Universo

Onde foi o Público desencantar o senhor tenente-coronel piloto aviador João José Brandão Ferreira?