quinta-feira, 29 de abril de 2010

Admirável Mundo Novo (3)

Mapa da Feira - Disponível brevemente.

O não-caso

Os únicos pontos que merecem discussão naquilo a que os jornais ingleses decidiram baptizar como Bigotgate são a legitimidade - ou falta dela, para ser mais correcto - e a impunidade dos órgãos de comunicação social no tratamento da conversa particular mantida entre Gordon Brown e um elemento da sua equipa de campanha. Muito mais importante do que discutir se a eleitora que interpelou Brown tem razão no que disse ou se o comentário do primeiro-ministro pode ser considerado ofensivo, é reflectir sobre os limites que todos os dias são ultrapassados por uma comunicação social ávida de sangue para as manchetes e para o horário nobre, indiferente ao mau serviço que presta ao jornalismo e à democracia.

Helen Keller School of Economics

Vão-se multiplicando os conselhos que, para vencer a crise, propõem cortes ou congelamentos salariais e redução dos apoios sociais. Apesar do contentamento demonstrado pelas associações patronais, não é preciso um mestrado em Economia para perceber os efeitos nefastos que estas medidas trazem para as famílias. Quando o consumo se retrair brutalmente e as pessoas deixarem de ser capazes de pagar os créditos que contraíram, é todo o sistema económico português que entra em colapso. Enganam-se todos os que pensam o contrário ou que acreditam que uma sociedade pobre e sem esperança é solo propício para consolidação orçamental e uma economia forte.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

How to lose friends and alienate people

Este post parece ter despertado algumas invejas. Não é caso para tanto. Já se sabe, uns dias correm melhor do que outros. Hoje, por exemplo, a água do mar não estava tão boa como ontem.

Demagogia por demagogia

Uma União Europeia a duas velocidades e que fragilize a moeda única é inaceitável. A Alemanha deve abandonar o Euro.

Admirável Mundo Novo (2)

"(O)s Livros do Dia são da responsabilidade das editoras, pelo que só poderemos divulgar a informação que nos for transmitida pelas mesmas."

Nada a que o frequentador do site da Feira nos últimos anos não esteja já tristemente habituado. Por muito que se goste de livros e da sua Feira e se queira elogiar, organização e editoras não tornam a tarefa fácil.

Admirável Mundo Novo

O site oficial da 80ª Feira do Livro de Lisboa informa que "brevemente" estará disponível. Como estamos a menos de 24 horas da abertura, calcula-se que o "brevemente", de facto, queira dizer "amanhã". Mas nem tudo está perdido. A Feira do Livro tem página no Facebook. E aí o Sherlock Holmes que habita em cada um de nós rejubila ao confirmar que "o site da Feira do Livro estará online a partir de amanhã".

Alguém explique a esta gente que o século XXI começou há quase uma década e que não é para isto que servem a internet e as redes sociais.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Dúvidas diplomáticas

É natural e comum um chefe de Estado enxovalhar os órgãos de soberania de outro país enquanto recebe o chefe de Estado desse mesmo país? É natural e comum que o segundo reaja com silêncio e depois candura e compreensão aos ataques do primeiro?

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um duplo erro

No mercado de trabalho, a relação de poder pende favoravelmente para as entidades empregadoras. Se não fosse por outras razões, o simples facto de haver mais procura do que oferta de empregos chegaria para compreender o que se passa. A isto junta-se uma realidade económica e social que penaliza fortemente o desemprego. O desempregado sofre um estigma social enorme, perde poder de compra e vê piorar, com o passar do tempo, as probabilidades de conseguir outro emprego.

Muito embora a retórica demagógica de direita equipare o desemprego subsidiado à preguiça, a verdade é que a maior parte das pessoas nessa situação preferiria encontrar um emprego decente e dignamente remunerado a passar os seus dias a olhar para as paredes do quarto. Como quanto mais tempo se passa desempregado mais baixa é a probabilidade de se ultrapassar essa situação, com o passar dos meses - por vezes, com o passar dos anos -, o desespero e a desmotivação aumentam exponencialmente. O subsídio de desemprego pode durar, no máximo, sensivelmente três anos, mas um crédito automóvel chega facilmente aos cinco ou seis anos e um crédito habitação pode ir até aos quarenta anos. A prazo, a verdade é que as necessidades financeiras pressionam qualquer desempregado.

Há uma razão social e moral para existirem protecções como o subsídio de desemprego, o rendimento social de inserção, o salário mínimo e as cargas horárias máximas de trabalho. Sem este tipo de bases mínimas, as pressões sobre todos os que procuram emprego conduziriam a uma espiral descendente da oferta de condições pelos empregadores. Medidas como estas destinam-se a introduzir patamares de justiça e dignidade abaixo dos quais a sociedade não reconhece legitimidade moral às condições de vida proporcionadas aos seus membros.

A liderança de Pedro Passos Coelho escolheu, simbólica e sintomaticamente, começar por atacar os mais fracos. Por uma questão de justiça e de modelo social e cultural, nunca deveria ganhar a oportunidade de implementar as violentas medidas que preconiza. Neste momento, com 10% de taxa de desemprego e com muitos mais portugueses que não sabem o dia de amanhã, são pelo menos 500.000 eleitores com boas razões para não votarem PSD. O tiro de partida de Passos Coelho revela, afinal, não ser mais do que um erro social e político.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Tão simples como isto

Quem quer acompanhar a visita de Bento XVI a Portugal devia tirar dias de férias para fazê-lo.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Lógica social

Que o PSD de Passos Coelho queira cortar nos apoios sociais do Estado, é uma questão ideológica. Que não perceba que as pessoas acedem aos apoios sociais como o subsídio de desemprego porque têm carreira contributiva, já é uma questão de lógica. Ou da falta dela. Quando se desconta para a Segurança Social ganha-se o direito de ser assistido num momento de necessidade. A contribuição está feita. Não há nada a devolver. De quem não percebe este princípio simples do funcionamento do Estado social não se pode esperar boa coisa.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Violento e destrutivo

Pedro Arroja, pessoa para a qual parecem sempre faltar adjectivos adequados, conseguiu a proeza de colocar meia blogosfera a reagir a mais uma das suas inanidades. Num post que é todo ele uma falácia, merecem especial atenção estes dois parágrafos:

"Um homem que seja verdadeiramente um homem, um homem heterossexual, nunca deseja que o mundo morra consigo. Esse homem deixa, em princípio, filhos e aquilo que ele deseja é que, à sua morte, o mundo seja pacífico e próspero, porque esse é o seu desejo para os seus filhos.
É diferente com um homossexual. Depois dele, não há nada. Não faz diferença nenhuma que o mundo morra com ele. Os homossexuais são, por isso, pessoas potencialmente violentas, os destruidores por excelência.
"

O principal aspecto que sobressai nestas frases é a instrumentalização utilitarista da reprodução sexual como factor gerador de interesse pelo futuro do mundo. Arroja não reconhece, ou recusa reconhecer, o homossexual como um ser dotado de capacidade moral. Na realidade, dentro do seu raciocínio, ou da forma tosca como o expõe, nem aos heterossexuais reconhece essa capacidade.

Por um lado, ao ligar o interesse pelo futuro do mundo ao interesse imediato com o futuro dos filhos, apaga-se toda a riquíssima teia de relacionamentos humanos e afectos gerados pela proximidade. Mas quem não deixa filhos pode deixar pais, irmãos, cônjuges, amantes e amigos. O interesse pelo futuro destas pessoas é, obviamente, também o interesse pelo futuro do mundo. Negar ou não reconhecer esta realidade é negar a humanidade destas relações.

Mas ainda que uma pessoa não deixe família ou amigos, é preciso recusar-lhe toda e qualquer capacidade de julgamento moral, de distinção entre o bem e o mal, para não lhe atribuir nenhum interesse pelo futuro do mundo. Para Pedro Arroja, o homossexual e o heterossexual sem filhos são pessoas sem capacidade para se relacionarem com a restante humanidade. O sofrimento alheio não lhes diria nada, uma vez que tudo se resume ao interesse utilitarista com a prole.

Ao negar-se a uma pessoa a capacidade de relacionamento com a humanidade, nega-se a própria humanidade dessa pessoa e, acto contínuo, decreta-se a sua exclusão dessa comunidade. Temos, assim, um mundo de pessoas de primeira e pessoas de segunda - semi-pessoas ou mesmo não-pessoas.

O palavreado de Pedro Arroja faz as delícias de fanáticos e fundamentalistas e encerra em si tudo o que pretende atacar. É violento e destrutivo, preconceituoso, segregacionista e, haja coragem para o afirmar, potencialmente genocida. Os grandes massacres do século XX não começaram de forma muito diferente.

domingo, 4 de abril de 2010

Spin

Há uns anos, o Bloguítica era um blogue que se dedicava a fazer análise política. Hoje em dia é um blogue se dedica a fazer combate político. Opção perfeitamente legítima, claro, e que nem sequer merece comentário adicional, mas que ajuda a enquadrar o último post do Paulo Gorjão. As declarações de Francisco Assis referem-se a um determinado contexto e as de Ricardo Rodrigues referem-se a outro completamente distinto. Algo razoavelmente simples de entender e que, com toda a certeza, não baralha ninguém. A pergunta que deve ser feita é se as notícias que têm vindo a público sobre o negócio dos submarinos, adquiridos no tempo do governo Durão/Portas, justificam, ou podem vir a justificar, uma comissão parlamentar de inquérito. O resto é spin.